Para mães divertidas, seguras, criativas, cheias de atitudes, atletas, donas de si, firmes, corretas e também para as mães que, como eu, não são tanto, mas são boas, intencionalmente boas mães.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

"Quem se faz de açucar, mela no sereno"


Duas vezes por ano embarco na aventura de organizar uma festa infantil. Nessa missão o destino me presenteou com duas grandes sortes, uma tia dona de buffet e datas de aniversário dos filhos com 4 meses de diferença.

Desde de sempre assumi algumas regras básicas que sigo com convicção. Todas partem do princípio de que a festa é do e para o meu filho (não minha). Seus amigos (e não os meus) serão os convidados. Apenas os parentes próximos (digo, bem próximos) serão convidados, com prioridade àqueles com filhos pequenos. Os amiguinhos da escola são sempre chamados, pois é com eles que ele convive todos os dias. Assim, consegui cortar custos, tornar a festa menor e mais aconchegante para os pequenos.

Quanto ao que servir... A única coisa que faço questão é de colocar muito suco e água. Algumas frutas, comidinhas leves. Já servi milk-shake, gelatina, espetinhos de frutas (todos em geral esquecidos no cardápio das festinhas que vou) e a garotada adorou.

Semana passada, em meio a organização do aniversário do André de 5 anos, li uma matéria que veio bem a calhar. “Melhor mudar de mundo do que muda-lo” de Cássia Fernandes. Ela fala de como temos dificuldade de transformarmos pequenas coisas e costumes no nosso dia a dia para mantermos hábitos mais saudáveis e ecologicamente mais sustentáveis. Ela usa o aniversário infantil como vilão na matéria mas acho que a crítica se aplicaria a muitas coisas.

A matéria pode parecer um pouco extremista, mas no fundo a autora tem suas razões. Resolvi destacar os trechos abaixo:

“…as escolas não fazem nenhuma restrição às famigeradas lembrancinhas que na maioria das vezes consistem numa caixa, lata ou saquinho, contendo uma quantidade assombrosa de plástico e açúcar, para horror dos nutricionistas. São quinquilharias descartáveis, brinquedinhos made in China, que quebram ao primeiro manuseio e vão parar no lixo, reciclável, por favor. É um surtimento impressionante de balas e chocolates, muitos sem qualquer controle de qualidade, repletos de corantes, e comercializados nas lojas de artigos para festas espalhadas a cada esquina.
 O saldo festivo costuma ser uma ameaça a qualquer equilibrada dieta infantil. …Muitas fazem aniversário no mesmo mês, de tal forma que numa mesma semana às vezes a meninada leva pra casa um verdadeiro arsenal de guloseimas que competem deslealmente com a maçã e o alface. E lá vão essas mesmas mães – oh, contradição! –  inventar esconderijos e formar trincheiras para proteger as crianças, já viciadas nas bombas de açúcar”.

Lembrancinha de 2 anos do Igor com o tema fazenda.
Fantoches - com doces dentro- mas em minha defesa digo,
os doces eram da fazenda! ( cocada, goiabada, rapadura,
doce de banana)
De fato, bombom é o que não falta na maioria das lembrancinhas de aniversário. E olha que sou fã de lembrancinhas, uso e reuso todas: bolsinhas, potes, toalhinhas. Aproveito mesmo e faço valer o dinheiro que elas custaram. Mas não precisava de tanto doce.

Há 3 semanas, “alimentei” 60 alunos de medicina da UNIFOR que faziam prova, e sim, nesta hora eles precisavam de algo para adoçar a vida e os neurônios. Alimentei-os com o apurado de duas festinhas infantis que meus filhos haviam comparecido. Cada aluno pegou 1 ou mais bombons e mesmo assim ainda sobraram um pacotinho de jujubas e uma bala de banana no potinho ( uma lembrancinha) que eu circulava em sala.
As crianças já esperam e aguardam ansiosas pelos doces das lembrancinhas e acho que devem existir. Porém, como tudo na vida, devem existir com moderação. Não gostamos que nossos filhos comam bombom todo dia, mas fornecemos aos filhos dos outros ( nossos convidados) um arsenal enorme nas lembrancinhas. Queremos estimular hábitos saudáveis mas ao mesmo tempo não conseguimos inseri-los no nosso dia a dia.

Mas é dia de festa, hoje pode! Até penso assim também, que extravagâncias devem ser feitas e devemos nos permitir pequenos prazeres de quando em vez, mas... O (um) pirulito será suficiente para arrancar um lindo sorriso e será ainda mais prazeroso se a ele ( o único) for dado o devido valor. Mas é a festa do meu filho e quero que seja maravilhosa! Por isso mesmo... A festa do seu filho é sua única chance de mudar, fazer diferente. Só nela você tem gerência, não nas dos outros. É sua chance de dar um bom exemplo e de ter uma boa ideia!

Cássia fala ainda:

“Na última festa de meu filho na escola, recordando as dificuldades que enfrentava quando ele era alérgico a lactose e corantes, e as estratégicas que era preciso criar para dar sumiço às tais lembrancinhas, resolvi nadar contra a corrente. Em vez de mandar um pacote de guloseimas e quinquilharias, dias após a festa, enviei a cada coleguinha uma foto tirada do aniversariante com cada um deles. 

Aquilo sim, para mim, era uma lembrança, não o açúcar que se dissolve na boca, não o brinquedo que se desmancha.  No entanto, vendo que as outras mães continuavam distribuindo seus kits memória, acabei por me sentir um verdadeiro ET que tirava literalmente o doce da boca de uma criança. Receei, agindo assim como um ser de outro planeta, fazer com que meu filho se sinta um diferente, um excluído de nossos usos e costumes. Não pretendo repetir a experiência. Melhor deixar de lado essa bobagem de mudar o mundo. Melhor, mais adiante, a gente se mudar de mundo.”

Vamos então achar nosso planeta. Criar nosso mundinho melhor dia a dia. Aquele com poucos bombons (mas que eles existam). Mundo onde o diferente é bom, onde o novo será julgado com lealdade e se for aprovado, adotado pela maioria. Adorei a ideias  das fotos, e vocês?  Não quero mudar de mundo, a final, já mudei de país e deu muito trabalho na adaptação, mas quero, muito, mudar o mundo, as pequenas coisas que nos cercam de imediatismos e falsas alegrias. 
Vou economizar nos bombons na lembrancinha do aniversário do André, tentar viabilizar as fotos com cada coleguinha e, quem sabe fazer desse mais um dia em que tentei fazer algo melhor.


Um comentário:

  1. No aniversário de dois anos da minha filha a lembrancinha foram livros infantis. Algumas crianças ficaram com raiva e disseram que não queriam aquela porcaria e deixaram lá....fiquei meio constrangida e nunca mais deixei de fazer o saco de balas...mesmo que tenha uma outra lembrança junto...boa sorte:)

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