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Não gosto de choro sem motivo!
Essa
frase sai com frequência da minha boca.
Tento
ensinar os meninos a se comunicarem com palavras, a falarem o que sentem e a serem
transparentes com seus sentimentos.
Pois
é... Esse é um daqueles dilemas da maternidade: educar e ensinar. Ensinar até o
que não sabemos.
Todo
mundo tem suas limitação e dizer o que realmente quero e sinto é a minha.
Guardo sentimentos bem guardados. E como um bom coração de mãe, o meu abriga
todo tipo de coisa sentida, não falada e engasgada. E sempre caba mais...
Seja
para não magoar a outra pessoa, para evitar conflito ou para fugir de uma
conversa que não quero e nem sei ter, eu calo. Calo muitas vezes também por
achar que simplesmente não tem jeito, não adianta ou não vale a pena.
Assim
evito o conflito com o outro, mas a mim cabe arrastar sentimentos negados,
sapos engolidos e palavras abortadas. Sempre vivi assim e venho sobrevivendo.
Mas não desejo isso para os meus filhos.
Prefiro
que sentimentos sejam como livros. A gente lê, sente, aprende e depois
repassa, reconta e empresta. Devemos guardar apenas os que nos são tão queridos a ponto de não conseguimos nos desfazer . Mas claro, contamos para todos que
lemos.
Infelizmente,
por enquanto só espalho livros por ai. Os sentimentos permanecem guardados. E
vou sentindo, calando e guardando. Estante cheia de coisas vividas que
arranharam de alguma forma a alma.
Não
sou vingativa. Acredito que perder tempo com vingança é bobagem. Como acredito
que o destino é sábio e infalível, deixo, então, a vingança por conta dele. Livro-me
da vingança mas não do choro.
Não
digam aos meus filhos que choro sem motivo. Vivo fazendo isso. Na verdade,
motivo deve ter, só que devo ter escondido tão bem que não acho mais. Talvez
por isso deseje tanto uma cerveja gelada às vezes. Ela me ajuda a acha-los.
Tenho
vontade de chorar e algumas vezes consigo. Pela manhã, ao deixar os meninos na
escola, quando dispo-me um pouco da maternidade. Depois do Pilates quando o
corpo se compadece da alma e também cansa. Quando tomo um banho morno e relaxo,
rompendo a vigília e abrindo os portões.
Choro
e algumas vezes faço um exercício de descobrir o porquê. Outras vezes, a
maioria, só choro.
Às
vezes me dá uma vontade danada de falar, abrir o berreiro e dizer o que
realmente me incomoda. Fogo de palha! Tenho diálogos inteiros no engarrafamento
comigo mesma. Eu falo, falo, falo... Ufa, pronto, falei.
Dia
desses fui falar. Respirei fundo e disse o que estava sentindo. Não deu muito
certo. Remorso por ter agredido meus amigos com meus sentimentos, mas
principalmente por ter traído a mim mesma. Aquela não era eu.
Eu
ficaria emburrada, meio distante e calada por alguns dias. Tempo necessário
para eu esconder direitinho o sentimento. Esconder daquele jeito que nem eu
encontro mais. Mas nesse dia inventei de falar.
Falei
tão desengonçada que nem me reconheci. Falta de prática, de treino e de
habilidade. Não sei falar o que sinto e não tenho o menor orgulho disso. Nem sei
falar e nem sei a hora certa.
Mas
sei, depois de muito treino, guardar as palavras que deveria ter dito e depois
deixa-las escorrer em lágrimas. Alguns, ao me verem chorar, lerão livros
inteiros. Esses são os que amo. Amor esse que não escodo e exibo com orgulho.
Torço
para que os meus meninos chorem quando adultos e que existam muitos ao redor
para lê-los e abraça-los. Mas que, muito além disso, eles digam com clareza e
ao seu tempo o que sentem. Digam em alto e bom tom para que os desconhecidos,
os ainda iletrados, saibam e possam compreende-los melhor.
Isso,
com certeza, tornará a vida mais leve.
Tambem é meu desejo pra os meus filhos! Bj
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