Para mães divertidas, seguras, criativas, cheias de atitudes, atletas, donas de si, firmes, corretas e também para as mães que, como eu, não são tanto, mas são boas, intencionalmente boas mães.

sábado, 15 de novembro de 2014

Bullying sistemático


Caí na besteira de chegar mais cedo.

Geralmente chego no final do treino, mas nesta quarta, cheguei mais cedo.

Desavisada, peguei o início do coletivo que ocorre todas as quartas-feiras na escolinha de futsal do colégio.

Eles estavam escolhendo os times. Observei o processo com cuidado e depois de muito pensar, acho que a melhor descrição que cheguei foi a de bullying sistemático.

Não uso muito o termo bullying, acho até que exageram no uso da palavra e no que classificam como sendo bullying. Corro aqui o risco de cometer o mesmo erro, mas vou arriscar.

Se não, vejam:

Crianças se aglomeram. Dois deles, os capitães, apontam dedos para os colegas. marcando os escolhidos. Alguns mais afoitos gritam: Eu! Eu! Me escolhe! Outros mais conformados apenas olham com atenção. Aos poucos sobram apenas alguns deles. Não que eles tenham sido ignorados, eles na verdade foram conscientemente deixados pra trás. Qual será a sensação destas crianças?

Muitos podem dizer: Mas os times são escolhidos assim desde que o mundo é mundo. Eu lhes respondo: Nós temos mania de repetir erros e passa-los de geração a geração.

Outros podem ainda argumentar: As crianças tiram de letra, elas se adaptam facilmente a essas situações. Eu rebato: Consigo pensar em pelo menos 3 sentimentos que as crianças teriam que fazer bom uso em casos como este que, com certeza, não são próprios da infância: resiliência, paciência e autoestima.

Ninguém olha para o rosto destas crianças que não são escolhidas? É de uma perversidade ímpar.

Não podemos culpar os capitães, estes apenas estão garantindo que seus times sejam os melhores possíveis. Mas acho que a escola, o treinador e nós temos uma parcela de culpa.

Já pensou? Treino após treino, toda semana durante 1 ano, com o mesmo grupo de colegas, ser deixado para trás.

Alguns vão indagar: Mas ele não está lá por que quer? Respondo: Sim, está por que adora futebol, por que gostaria de treinar para ficar melhor e por que tem amigos alí com os quais ele gosta de conviver. Para ter isso a criança tem que passar por essa humilhação com data e hora certas para acontecer?

E lá vem a turma dos que dizem que protegemos demais nossas crianças, que não queremos que elas tenham nenhuma frustação na vida e blá, blá, blá.  Eu afirmo que frustações serão vividas os pais querendo ou não. Mas neste caso, não entendo que estejamos falando de uma processo educativo ou de algo que vá moldar positivamente a personalidade de nossos filhos. Na verdade, vejo que uma criança deixada para trás sistematicamente, só tem a perder.

Fiquei caladinha vendo aquilo tudo. Saí com uma sensação horrível. Resolvi escrever no blog.

Bom final de semana.

3 comentários:

  1. Boa percepção. Eh uma questão real. Não creio que gere maiores prejuízos para a formação da criança, mas deveria ser melhor acompanhada, especialmente pela escola e instrutores.

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  2. Pois acho completamente desnecessário expor nossos pequenos a esse tipo de situação. Nem nós que somos adultos tiramos de letra isso, o que dirá uma criança em formação... Muito pertiente seu desabafo!

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  3. Acho importante a frustração, mas uma instituição escolar deveria supervisionar e orientar os alunos. O jogo não precisa ser excludente. A sociedade é assim, mas não estamos tentando modificá-la? Quantas crianças sem habilidades para esportes podem ter outras habilidades minadas simplesmente por serem humilhadas nos esportes?

    Meu filho de 8 anos é um dos que nunca é escolhido. Quando ele tem que entrar no time, ninguém chuta para ele. Tentei faze-lo desistir do futebol. Ele me disse "se eu não tentar, como vou aprender?"

    Achei lindo e pensei que ele tiraria uma boa lição disso, até o dia que apareceu um garoto que jogava pior, e ele o tratou exatamente como ele era tratado pelos demais: de forma humilhatória. Conversei com ele, mas não havia ninguém da escola observando, e nem pretendem estar.

    Quando não há intervenção, perpetuamos a violência - física ou simbólica. Lamento que as nossas instituições escolares estejam tão preocupadas com conteudismo e tão pouco com valores sociais - apesar de propagarem isso o tempo inteiro.

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