Ele vai ganhar uma presentinho do Folga da babá ( uma sacola ecológica do blog) e ainda pode presentear quem quiser com uma hidratação, escova e mão no salão Meu Camarim.
Com um texto bem legal ( e muito sincero) representou bem a dificuldade e o cotidiano da maternidade e da paternidade: dar o exemplo.
E quem não deu uma escapulida na frente do filho? Mas já que é pra falar mal de Argentino, a transgressão está perdoada! ;-)
Aí vai o texto vencedor:
Seja a mudança que você quer no mundo...ou pelo menos tente
Rio de Janeiro, Segunda-feira, 14 de Julho
de 2014 (Júlia: 6 anos e 5 meses)
Para viver em harmonia com
quem nos cerca é preciso saber aceitar as diferenças, perdoar, não guardar
rancores e valorizar o que nos une. Num mundo onde as pessoas se debatem com
ódio até por coisas banais, só conseguiremos que isso mude se hoje dermos o
exemplo aos nossos filhos. Respeitar o próximo, independentemente da cor da
pele, nacionalidade, religião, preferência sexual e posição política, como se
realmente fôssemos irmãos, é uma utopia antiga, mas que deveríamos todos
perseguir. Porém agir desta forma não é tão fácil quanto falar.
Nossos hermanos chegaram
cedo para a Copa e se colocaram bem à vontade no Rio de Janeiro. Mesmo com os preços
estratosféricos e a crise na Argentina, eles mostraram que aprenderam alguma
coisa com os anfitriões e deram o seu “jeitinho” para desfrutar de uma
hospedagem barata com vista para o mar de Copacabana. Estacionaram seus carros
ao longo da avenida Atlântica, fazendo lá a sua casa. Mas não despertaram muita
simpatia. “São uns miseráveis!”, reclamou o garçom do Zig-Zag, o boteco que
frequento, ao lado da praça General Osório, “não consomem nada, reclamam na hora
de pagar a conta e são arrogantes”. Já estavam quase formando um assentamento
quando a prefeitura os levou para acamparem com mais conforto e segurança num
espaço destinado a eventos durante o carnaval, o Terreirão do Samba.
Alguns dias depois,
voltando do trabalho para assistir o Brasil ser goleado pela Alemanha, eu
passei pela segunda “ocupação” deles, no Sambódromo. Eram tantos que o governo
já devia estar pensando em instalar uma UPP
por lá. Somos hospitaleiros com os visitantes, mas estar no meio de um engarrafamento,
sendo obrigado ver dois garotões argentinos fazendo gestos ofensivos e cantando
suas musiquinhas debochadas para os brasileiros que estavam no ônibus, foi
demais para mim. Não sou tão evoluído para não me irritar.
A
situação tomou contornos
trágicos quando, no dia seguinte, eles venceram a Holanda e a
possibilidade de
serem campeões ficou mais próxima. Gastar uma fortuna com esta Copa,
para ainda
por cima eles ganharem e ficarem o resto da vida zombando da gente!? E,
para
completar o quadro de terror, a Júlia, do alto dos seus 6 anos,
declarou-se torcedora da Argentina na final. “Não pode!”, proibiu a
Kaká, “eles são nossos inimigos”. Ciente da importância de darmos bom
exemplo, eu protestei, “É só futebol! Mesmo não querendo que eles
ganhem, não
vamos criar nela esta animosidade por outro país por causa de esporte.”
Não adiantou. Kaká
ainda titubeou, mas na primeira oportunidade voltou a tentar influenciar nossa
filha, “Os argentinos chamaram a gente de macaquitos, filha!”. Eu ainda
argumentei que não são todos e tem gente preconceituosa em todo lugar. Mas nem
precisava, ainda livre dos preconceitos, a menina tomou a ofensa como um
elogio, “Ah, macaquinho é tão fofinho!”
No sábado, tudo ficou ainda
pior. Mesmo dentro de casa, conseguíamos ouvir os argentinos cantando suas
musiquinhas provocativas na lanchonete do outro lado da rua. Minha filha, vendo
a mãe na torcida contrária, ainda argumentava em favor da fraternidade
sul-americana, “os argentinos são seres vivos, como a gente!” (não sei como ela
classifica os alemães).
O prenúncio do inferno foi
no início da tarde de domingo. Chegavam hordas deles, cantando provocativamente
na entrada do metrô, ao lado do nosso prédio. Foi aí que eu decidi que ia
deixar para dar bom exemplo outro dia. Por mim, durante o jogo, eu bloqueava a
saída da estação com as latas de lixo, me entrincheirava no alto do prédio e
quando eles voltassem da final cantando, jogava o que pudesse lá de cima, “Vão
frescar lá na terra de vocês!”. Só não o fiz porque tive medo de a polícia
pensar que eu estava protestando contra a Copa e me mandar para o presídio de
Bangu.
Saímos, então, para
assistir o jogo na rua, num clima de “#somostodosalemães”.Vendo o apoio popular
à Alemanha, Júlia virou a casaca, mas confessou que tinha um
pressentimento que a Argentina ia ganhar. E quando seu palpite felizmente se
mostrou errado, ela comemorou como uma alemãzinha.
Voltamos para casa com a
alma lavada depois de passear pelas ruas para ver se ainda havia algum gaiato
argentino cantando música de deboche. Só então pude finalmente ensinar à minha
filha a importância da união com o próximo: Fui para a janela da sala me unir
aos vizinhos de prédio que do alto estavam tirando sarro dos argentinos que
passavam pela rua. Não estou orgulhoso, mas é como eu disse, agir não é tão
fácil quanto falar.
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