Censurado para menores
Sou
chata, muito chata. Não aceito palavrões aqui em casa. André e Igor até já
arriscaram alguns porém arrepederam-se prontamente. E faço questão de reforçar
o castigo toda vez que se repete. Ainda bem que a frequência ainda é
baixíssima.
O
teste de fogo é levar seu filho a um estádio de futebol. Um festival de
palavrões. Eles são de todos os tipos: grotescos, bizarros, ofensivos e alguns
até não identificados. E não adianta, você não vai conseguir fugir deles. Se
por um rearranjo cósmico você sentar perto apenas de torcedores bem
comportados, o som da torcida organizada garantirá a cota de palavrões mínima
a ser ouvida durante um jogo de futebol.
E se
a educação mais eficaz é aquela que se dá pelo exemplo, muita calma nesta hora.
Você se aguenta, se retorce e se supera. Consegue passar boa parte dos noventa
minutos sem dizer um palavrão. Até que o juiz expulsa seu camisa 10, ou não
marca o pênalti claro, ou não coíbe a catimba exagerada, ou... São muitas as
situações em que um belo palavrão dito em alto e bom som cabe dentro de uma
partida de futebol. Como uma luva.
Ao
dizer um palavrão vez ou outra dentro do estádio tenho a chance de ensinar aos
meus meninos que temos sentimentos fortes, que às vezes agimos impulsivamente e
que é sadio extravasar as emoções. Se eu não disser nenhum palavrão, nenhuzinho
que seja, corro o risco de passar por chata, fria e calculista que tolhe as
emoções e inibe expressões espontâneas de sentimentos verdadeiros. ( Pronto,
essa fui eu me justificando. Quem nunca?)
Já
havia levado os meninos algumas vezes ao estádio, mas ontem foi especial. Vou
contar a você:
Magno
Alves posiciona-se para a cobrança para desespero da torcida. Os xingamentos
para o craque do time não eram de todo injustificados. O Magnata sabe fazer
gol, mas definitivamente, não os sabe fazer cobrando pênalti. Dito e feito.
Perdeu.
Olho
para o André indignada e digo: Tu viu?
Ele perdeu de novo!
E
meu menino, sem a menor cerimônia, disse: Puta Meeeeerda!
Puta
merda? Como assim puta merda??? Assim na minha cara. Olho no olho? Fiquei meio
sem ação. Na verdade, puta merda era fichinha diante do que outros torcedores
estavam dizendo. Mas o puta merda tinha saído da boca dele.
Pausei
e disse em voz calma: Amor, isso não se fala, é palavrão, é feio.... Blá, blá,
blá...
E
André dá uma batidinha no meu ombro e diz: Relaxa mãe, tá tranquilo. No estádio
pode. E se vira para acompanhar o jogo.
Ri.
Ele tem razão. Um “puta merda” naquele momento só iria fazer bem. Não ofendeu a
ninguém, não agrediu.
E
vamos lá. Comer churrasquinho na porta,
Marujinho lá dentro. Vamos para o canto onde se segrega não pela cor da
pele, preferencia sexual, religião ou classe social. Mas sim pela cor da
camisa. Ali tá todo mundo, gente de todo tipo, com a mesma camisa e com um só
desejo: ver o time ganhar.
O
estádio ensina muito. Muito do que não se deve fazer, e isso faço questão de
pontuar aos meus meninos. Mas o estádio agrega, ensina muita coisa boa também.
E agora meu menino aprendeu que tudo tem seu tempo e hora. Até um palavrão.
E
depois aprendeu humildade, quando o artilheiro do Brasil pediu desculpas a
torcida por ter perdido o pênalti. Aprendeu sobre superação quando esse mesmo
artilheiro fez um gol logo depois. Aprendeu a se expor e a curtir o momento
quando juntou-se com outros 4 meninos que nunca tinha visto e ficou batendo
bola com uma dente de leite na beira do campo.
Placar
final de 4 x 0 para o Ceará. Família feliz, menino feliz.
Bom texto,. Parabéns!
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