Caí
na besteira de chegar mais cedo.
Geralmente
chego no final do treino, mas nesta quarta, cheguei mais cedo.
Desavisada,
peguei o início do coletivo que ocorre todas as quartas-feiras na escolinha de
futsal do colégio.
Eles
estavam escolhendo os times. Observei o processo com cuidado e depois de muito
pensar, acho que a melhor descrição que cheguei foi a de bullying sistemático.
Não
uso muito o termo bullying, acho até que exageram no uso da palavra e no que
classificam como sendo bullying. Corro aqui o risco de cometer o mesmo erro,
mas vou arriscar.
Se
não, vejam:
Crianças
se aglomeram. Dois deles, os capitães, apontam dedos para os colegas. marcando
os escolhidos. Alguns mais afoitos gritam: Eu! Eu! Me escolhe! Outros mais
conformados apenas olham com atenção. Aos poucos sobram apenas alguns deles.
Não que eles tenham sido ignorados, eles na verdade foram conscientemente
deixados pra trás. Qual será a sensação destas crianças?
Muitos
podem dizer: Mas os times são escolhidos assim desde que o mundo é mundo. Eu
lhes respondo: Nós temos mania de repetir erros e passa-los de geração a
geração.
Outros
podem ainda argumentar: As crianças tiram de letra, elas se adaptam facilmente
a essas situações. Eu rebato: Consigo pensar em pelo menos 3 sentimentos que as
crianças teriam que fazer bom uso em casos como este que, com certeza, não são
próprios da infância: resiliência, paciência e autoestima.
Ninguém
olha para o rosto destas crianças que não são escolhidas? É de uma perversidade
ímpar.
Não
podemos culpar os capitães, estes apenas estão garantindo que seus times sejam
os melhores possíveis. Mas acho que a escola, o treinador e nós temos uma
parcela de culpa.
Já
pensou? Treino após treino, toda semana durante 1 ano, com o mesmo grupo de
colegas, ser deixado para trás.
Alguns
vão indagar: Mas ele não está lá por que quer? Respondo: Sim, está por que
adora futebol, por que gostaria de treinar para ficar melhor e por que tem
amigos alí com os quais ele gosta de conviver. Para ter isso a criança tem que
passar por essa humilhação com data e hora certas para acontecer?
E lá
vem a turma dos que dizem que protegemos demais nossas crianças, que não
queremos que elas tenham nenhuma frustação na vida e blá, blá, blá. Eu afirmo que frustações serão vividas os pais
querendo ou não. Mas neste caso, não entendo que estejamos falando de uma
processo educativo ou de algo que vá moldar positivamente a personalidade de
nossos filhos. Na verdade, vejo que uma criança deixada para trás
sistematicamente, só tem a perder.
Fiquei
caladinha vendo aquilo tudo. Saí com uma sensação horrível. Resolvi escrever no
blog.
Bom
final de semana.
Boa percepção. Eh uma questão real. Não creio que gere maiores prejuízos para a formação da criança, mas deveria ser melhor acompanhada, especialmente pela escola e instrutores.
ResponderExcluirPois acho completamente desnecessário expor nossos pequenos a esse tipo de situação. Nem nós que somos adultos tiramos de letra isso, o que dirá uma criança em formação... Muito pertiente seu desabafo!
ResponderExcluirAcho importante a frustração, mas uma instituição escolar deveria supervisionar e orientar os alunos. O jogo não precisa ser excludente. A sociedade é assim, mas não estamos tentando modificá-la? Quantas crianças sem habilidades para esportes podem ter outras habilidades minadas simplesmente por serem humilhadas nos esportes?
ResponderExcluirMeu filho de 8 anos é um dos que nunca é escolhido. Quando ele tem que entrar no time, ninguém chuta para ele. Tentei faze-lo desistir do futebol. Ele me disse "se eu não tentar, como vou aprender?"
Achei lindo e pensei que ele tiraria uma boa lição disso, até o dia que apareceu um garoto que jogava pior, e ele o tratou exatamente como ele era tratado pelos demais: de forma humilhatória. Conversei com ele, mas não havia ninguém da escola observando, e nem pretendem estar.
Quando não há intervenção, perpetuamos a violência - física ou simbólica. Lamento que as nossas instituições escolares estejam tão preocupadas com conteudismo e tão pouco com valores sociais - apesar de propagarem isso o tempo inteiro.