Para mães divertidas, seguras, criativas, cheias de atitudes, atletas, donas de si, firmes, corretas e também para as mães que, como eu, não são tanto, mas são boas, intencionalmente boas mães.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Fazenda do vovô


Cadê esse menino que não vem tomar o suco? Mal acorda e se mete no mato de pijama e chinela sem medo de susto. Esse mato tem bicho, tem cobra e é sujo!
E agora... Passei uma hora tirando pega-pinto do pijama do menino.

Lá se vai o menino , agora de pé descalço, só de short no corpo e baladeira na mão. Vai acertar o alvo feito no meio do mato com urucum e carvão.
Passei duas horas tirando pega-pinto do pijama e lavando o encardido da mão do menino. 

Passa pela jurema, pisa no espinho, não vê o azulejo rachado. Esse menino parece de ferro mas, depois da brincadeira, volta todo ralado.
Passei três horas tirando pega-pinto do pijama, lavando o encardido da mão e limpando as feridas do menino.

Carneiro morto, almoço posto e esse menino não aparece para encher a barriga. O que é que custa pisar em casa e evitar uma briga?
Passei quatro horas tirando pega-pinto do pijama, lavando o encardido da mão, limpando as feridas e requentando o almoço do menino.

Foi-se de sunga tomar banho de lagoa, sol alto certeiro no meio do céu. Cadê esse menino que não se cuida e não leva nem um chapéu?
Passei cinco horas tirando pega-pinto do pijama, lavando o encardido da mão, limpando as feridas, requentando o almoço e passando protetor no rosto do menino.

Mal a tarde cai e o menino já pega a bicicleta. Na areia frouxa, no chão pesado. Grito perdendo de vista o menino que foge sem escutar o alerta.
Passei seis horas tirando pega-pinto do pijama, lavando o encardido da mão, limpando as feridas, requentando o almoço, passando protetor no rosto e lavando a raladura no joelho do menino.
 
Quando penso que se aquieta, menino pega a bola. Do pai faz adversário e improvisa a trave com a chinela. Do irmão faz gandula e a mãe torcedora se esgoela.
Passei sete horas tirando pega-pinto do pijama, lavando o encardido da mão, limpando as feridas, requentando o almoço, passando protetor no rosto, lavando a raladura no joelho e gritando o nome do menino.

O sol já não faz luz quando o menino vai pra bica, lá mesmo se lava com shampoo e sabonete. Vem manso trocar de roupa e pedir mais band-aid.
Passei oito horas tirando pega-pinto do pijama, lavando o encardido da mão, limpando as feridas, requentando o almoço, passando protetor no rosto, lavando a raladura no joelho, gritando o nome e cuidando do menino.

Já noite o menino desenha estórias. Com lápis e imaginação faz quadrinhos retratando o dia. Teve muita cor e diversão; aventura e alegria.
Passei nove horas tirando pega-pinto do pijama, lavando o encardido da mão, limpando as feridas, requentando o almoço, passando protetor no rosto, lavando a raladura no joelho, gritando o nome, cuidando e observando o menino.

Agora já cansado o menino se aninha. Vem pro colo, pede livro, pede estória e se desliga.
Passei 10 horas... Sendo mãe de um menino feliz na fazenda do avô. 

Vou dormir e esperar o galo cantar.

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