Para mães divertidas, seguras, criativas, cheias de atitudes, atletas, donas de si, firmes, corretas e também para as mães que, como eu, não são tanto, mas são boas, intencionalmente boas mães.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Choro


- Não gosto de choro sem motivo!

Essa frase sai com frequência da minha boca. 

Tento ensinar os meninos a se comunicarem com palavras, a falarem o que sentem e a serem transparentes com seus sentimentos.

Pois é... Esse é um daqueles dilemas da maternidade: educar e ensinar. Ensinar até o que não sabemos.

Todo mundo tem suas limitação e dizer o que realmente quero e sinto é a minha. Guardo sentimentos bem guardados. E como um bom coração de mãe, o meu abriga todo tipo de coisa sentida, não falada e engasgada. E sempre caba mais...

Seja para não magoar a outra pessoa, para evitar conflito ou para fugir de uma conversa que não quero e nem sei ter, eu calo. Calo muitas vezes também por achar que simplesmente não tem jeito, não adianta ou não vale a pena.

Assim evito o conflito com o outro, mas a mim cabe arrastar sentimentos negados, sapos engolidos e palavras abortadas. Sempre vivi assim e venho sobrevivendo. Mas não desejo isso para os meus filhos.

Prefiro que sentimentos sejam como livros. A gente lê, sente, aprende e depois repassa, reconta e empresta. Devemos guardar apenas os que nos são tão queridos a ponto de  não conseguimos nos desfazer . Mas claro, contamos para todos que lemos.

Infelizmente, por enquanto só espalho livros por ai. Os sentimentos permanecem guardados. E vou sentindo, calando e guardando. Estante cheia de coisas vividas que arranharam de alguma forma a alma.

Não sou vingativa. Acredito que perder tempo com vingança é bobagem. Como acredito que o destino é sábio e infalível, deixo, então, a vingança por conta dele. Livro-me da vingança mas não do choro.

Não digam aos meus filhos que choro sem motivo. Vivo fazendo isso. Na verdade, motivo deve ter, só que devo ter escondido tão bem que não acho mais. Talvez por isso deseje tanto uma cerveja gelada às vezes. Ela me ajuda a acha-los.

Tenho vontade de chorar e algumas vezes consigo. Pela manhã, ao deixar os meninos na escola, quando dispo-me um pouco da maternidade. Depois do Pilates quando o corpo se compadece da alma e também cansa. Quando tomo um banho morno e relaxo, rompendo a vigília e abrindo os portões.

Choro e algumas vezes faço um exercício de descobrir o porquê. Outras vezes, a maioria, só choro.

Às vezes me dá uma vontade danada de falar, abrir o berreiro e dizer o que realmente me incomoda. Fogo de palha! Tenho diálogos inteiros no engarrafamento comigo mesma. Eu falo, falo, falo... Ufa, pronto, falei.

Dia desses fui falar. Respirei fundo e disse o que estava sentindo. Não deu muito certo. Remorso por ter agredido meus amigos com meus sentimentos, mas principalmente por ter traído a mim mesma. Aquela não era eu.

Eu ficaria emburrada, meio distante e calada por alguns dias. Tempo necessário para eu esconder direitinho o sentimento. Esconder daquele jeito que nem eu encontro mais. Mas nesse dia inventei de falar.

Falei tão desengonçada que nem me reconheci. Falta de prática, de treino e de habilidade. Não sei falar o que sinto e não tenho o menor orgulho disso. Nem sei falar e nem sei a hora certa.

Mas sei, depois de muito treino, guardar as palavras que deveria ter dito e depois deixa-las escorrer em lágrimas. Alguns, ao me verem chorar, lerão livros inteiros. Esses são os que amo. Amor esse que não escodo e exibo com orgulho.

Torço para que os meus meninos chorem quando adultos e que existam muitos ao redor para lê-los e abraça-los. Mas que, muito além disso, eles digam com clareza e ao seu tempo o que sentem. Digam em alto e bom tom para que os desconhecidos, os ainda iletrados, saibam e possam compreende-los melhor.

Isso, com certeza, tornará a vida mais leve.

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