Medo de mãe era pra ser tudo igual. Inerente à qualidade de mãe.
Medos que muitas vezes são exagerados e injustificáveis, mas são. São e doem
como medos reais.
Medo de mãe é aquele que sentimos por proteger em demasia, por
querer bem e esperar sempre o pior. Medo de mãe não precisa ter sentido, ou ter
precedente.
Acontece que o medo de mãe, esse medinho bom de sentir, que nos
deixa no estado sempre alerta de mãe, sempre de sobreaviso. Medo que nos faz
escutar e ver o que ninguém mais vê. Medo que nos faz pressentir, antever e
reagir contra o que virá. Esse medo está sendo suplantado por um estado de
terror.
Terror que nos priva, nos limita. Terror que altera nossa rotina.
Terror que nos transforma em bicho acuado, em leoa exausta por nunca baixar a
guarda. Com os sentidos exageradamente aguçados, a mãe em estado de terror
prioriza proteção à acolhida. Lambe para curar a ferida e não para fazer
carinho. Abraça para proteger e não para acalentar.
Medo de mãe é medo que o filho caia no parquinho da escola e não que
o ofereçam crack na porta do colégio.
Medo de mãe é medo que seu filho caia da bicicleta na pracinha e não
que roubem sua bicicleta com violência.
Medo de mãe é medo de ver seu filho sem cinto no banco de trás do
carro e não que o cinto não solte quando você quer tira-lo de dentro do carro
rapidamente durante um assalto.
Medo de mãe é medo de doença rara e não de bala perdida.
Medo de mãe é medo que seu filho tome as decisões erradas e não que
ele seja arrastado pela maioria mal educada a despeito de sua boa conduta.
Medo de mãe é medo que seu filho se afogue e não que lhe roubem os
pertences enquanto você alerta seu filho quanto aos perigos do mar.
Medo de mãe é medo de chegar à peça infantil e encontrar os
ingressos esgotados e não de ser assaltada na porta do teatro com seus filhos.
Não há mais lugar para medo de mãe. Há muito mais a ser sentido, há
pavor, há vergonha, há desespero.
Há tanto no que se preocupar...
Nossa cidade há muito nos priva de sentir medo de mãe. De ser mãe
como gostaríamos. De curtir aquele medo desmensurado do que quase nunca ocorre.
Agora temos medo do que realmente nos ameaça e ataca.
Essa cidade me assusta.
Texto lindo, Iusta !!! Sofremos agora por todos os medos possíveis...medos de mãe. medos de filha, medos de esposa...Nossos filhos, acuados em nosso medo, não tem direito à mesma infância que pudemos usufruir...Triste!!
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