Faz tempo que não escrevo e já estava com saudades.
Mas acho que a espera valeu a pena. Mudei até o tema do post que
pretendia escrever. Seria sobre os “super poderes” que as mães possuem, tema
que já abordei aqui outras vezes mas do qual não me canso de falar. ( novas
evidências surgem a cada dia e tenho que compartilhar ;-)).
Mas
esse post vai ter que esperar.
Resolvi falar da morte.
Calma, nada trágico, ou pelo menos, não deveria ser.
A motivação para o post veio de um comentário do meu filho de 5 anos,
André:
-
Mãe, você vai morrer primeiro
que a gente pois você é a mais velha da casa.
Assim, sem mais. Enquanto o colocava para dormir. Só me restou
dizer:
-
É filho, muito provavelmente
isso ocorrerá.
Na verdade, rezo todos os dias para que isso ocorra pois morrer, independente
da crença do que vem depois, não pode ser mais doloroso que viver a morte de um
filho. Mas poupei André das minhas angústias maternas e esperei pra ver se
vinha mais alguma coisa de lá pra cá. E veio:
-
Pois a gente só morre quando está
muito velhinho ou quando tem alguma coisa grave...
Falou André meio titubeante, talvez esperando que eu lhe dissesse
algum outro motivo pelo qual uma pessoa pudesse morrer. Mas não, apenas
confirmei sua afirmação, acrescentando um detalhe:
-
Isso amor, por um desses dois
motivos todos nós vamos morrer um dia. Faz parte da vida.
E pronto. De repente, em 3 minutos, eu tinha tido uma conversa sobre
envelhecimento, morte e fatalidade com meu menino de 5 anos. Ele que trouxe os
conceitos, com a simplicidade que cabe a uma criança e com a naturalidade que o
tema deveria merecer de todos nós. Imagino o desastre que teria sido caso eu
tivesse introduzido o assunto.
Ao sair do quarto, satisfeita com a ideia de que morreria primeiro
que todos em casa, tentei entender por que André havia falado aquilo.
A “culpa” era do livro infantil que havíamos trazido como presente
de viagem “Quién come a quién?”
Quando comprei, confesso que fui atraída muito mais pelas
ilustrações interessantes que pelo tema. Mas que surpresa! Simples, direto e
surpreendente.
O livro faz uma sequência interessante de
eventos. Mostra uma cadeia alimentar bem humorada. Mas em algumas páginas, os
bichinhos morrem simplesmente por que estão muito velhos. O evento se repete
umas 2 vezes ao longo da cadeia, e na terceira vez, o autor pergunta: Agora você já sabe o que aconteceu, não é?
E acho que André entendeu muito bem a
mensagem. Nada melhor que tratar a morte de uma maneira natural. A morte é um
fim comum, e se não precoce, se não violenta, deveria ser tranquila.
E sabe do que mais, na página seguinte à
morte, nasciam linda flores.
"E que a morte me encontre plantando minhas couves, mas despreocupado dela, e mais ainda de meu imperfeito jardim." (Michel de Montaigne, em "Ensaios")
ResponderExcluirLembrei-me de Montaigne por causa da última frase, em que você diz que na página seguinte à morte nasciam flores lindas. Para dar continuidade ao Jardim, Iusta, sempre inacabado e imperfeito. E bonito. E misterioso.
Obrigado pela reflexão.
Raul
Legal, Raul. De fato, sempre inacabado.
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