Para mães divertidas, seguras, criativas, cheias de atitudes, atletas, donas de si, firmes, corretas e também para as mães que, como eu, não são tanto, mas são boas, intencionalmente boas mães.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Quem ensina sofre.


Tenho o prazer de ser professora de medicina. Profissão que me caiu do céu, tenho certeza. Serviu-me como uma luva, e visto-me dela como quem veste o ultimo lançamento da moda. Exibida e de bem com a vida.

A cada semestre tenho a honra de pegar emprestado 20 filhos. Filhos de pais que não conheço. Pais que me doam seus rebentos na confiança de que eu passarei a eles algo de bom. Abraço minha missão com unhas e dentes, e tento corresponder aos anseios de pais e filhos.

Alguns semestres são melhores, outros piores, mas nunca por falta de compromisso ou atenção com os meus meninos. E sim,  por simples força dos fatos. Das circunstâncias.
Tento sempre instigar meus alunos a prender, a ter sede. Como uma mãe que escolhe o livro com as ilustrações mais coloridas para estimular o filho a ler. Como um pai que compra uma bola nova e assim estimula o filho a fazer seu primeiro gol.

Como professora tento passar conceitos, técnicas e postura. Porém, como uma boa mãe, tento dar exemplo, reforçar atitudes positivas com elogios, recriminar atos inapropriados com castigo. Devo confessar que não me saiu muito bem na ultima tarefa. Mas... Tento ser uma boa mãe e com isso, uma boa professora.

Tenho, então, esses meninos como meus. Com carinho de mãe os recebo. Mais empatia e afinidade com uns que com outros, mas o mesmo carinho com todos.  Vejo meus próprios filhos em alguns, imaginando as semelhanças daqui a alguns anos.  É bom vê-los crescer, serem elogiados nos corredores, passarem em estágios, concursos. Tornarem-se bons médicos.

Mas nesta páscoa vivi o que nenhuma mãe quer viver. Perdi um aluno. Perdi um menino, um colega, um futuro bom médico. Vivi um sentimento estranho. Um pesar que nunca tinha sentido. Uma mistura de lamento, revolta e tristeza. Uma angústia imensa ao pensar em seus pais. Angústia maior ao pensar em meus filhos.

É rápida e sem aviso. É inconteste. É cruel e traiçoeira. A morte em pessoas jovens. A morte evitável. A morte fora de hora é inconcebível.

Se serve de aviso, vou tentar fazer melhor. Vou tentar passar muito mais do que conceitos a esses meus meninos. Vivam mais e melhor. Vivam vida longa. 
Quando ensino o ciclo cardíaco, ouçam não fumem, comam bem e façam exercício.  Ao falar sobre respiração tecidual, escutem usem cinto de segurança, não dirijam bêbados e respeitem as pessoas. Na oncologia, tirem o respeito à vida como o principal ensinamento.

Cuidem-se acima de tudo. Ajudem ao paciente pelo exemplo antes de tudo. Fiquem bem e cumpram o destino que nós, como professores e pais, sonhamos para vocês: vida boa e longa. 

Obedeçam!!

Bruno, a você atribuo o poder que julgo ter as pessoas de bem que se vão. Poder de alertar, de transformar e de fazer o bem. Que sua vida continue em todos os seus colegas, amigos, pais e professores. 

4 comentários:

  1. Palavras bem colocadas, Iusta. Que Deus conforte a familia dele!

    ResponderExcluir
  2. Que belas palavras.. tao a sua cara.. quantas coisas vc me ensinou!!! E vai ensinar mto mais! Uma grande perda para todos! Que Deus conforte a familia!

    ResponderExcluir
  3. Belas e sábias palavras... assim como a cada semestre sao novos filhos, imagine por quase 5 anos a mesma turma! Seriamos nós, os alunos, irmãos? Alguns mais próximos, outros nem tanto... entretanto somos uma família... família essa desfalcada, com um vazio... Éramos 65, eis o primeiro q por força do destino nos deixou... sim deixou!!! Deixou boas lembranças, saudades e um lugar garantido no nosso coração. Espero q essas coisas boas sirvam para aliviar o vazio nos nossos grupos, na nossa festa, nos nossos corações... Bruno não foi apenas mais um! Mas sim um de nós! Membro da nossa família medicina2015.1...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Com certeza irmãos Natália, não tenho dúvidas. Forte abraço.

      Excluir