Bem
que eu desconfiei. Aquelas vozes...
Explico
melhor para que vocês entendam: Na quarta-feira a noite, ao passar pelo quarto
dos meninos, ouvi vozes. Não eram deles, pois dormiam. Eram de outra coisa.
Digo coisa pois aquelas vozes não pareciam de gente. Hora finas, hora grossas e
pareciam eufóricas. Como não consegui entender o que diziam e tinha muito o que
fazer, não dei a devida importância.
Voltei
ao meu quarto. Fábio viajaria na manhã seguinte, logo ao raiar do sol.
Arrumamos a mala, conversamos e namoramos para espantar a saudade que já queria
chegar. Quando o despertador tocou às 4:45, tudo estava pronto e Fábio partiu.
Já
era hora de começar a rotina diária e fui até o quarto dos meninos. Novamente
escuto as vozes. Agora com a quietude da casa e sem o burburinho da cidade que
ainda se espreguiçava pude entender o que diziam: “Essa é a nossa chance”, “Vamos lá, essa é a hora!”, “Hoje iremos conseguir!”.
Eram gritos de guerra, palavras de ordem. Continuei escutando e me aproximando
do banheiro, onde as vozes pareciam mais fortes. “Finalmente o gigante saiu,
aquele que espreita, vigia e protege, sem ele por perto nós conseguiremos!”
Fiquei
tentando entender o que significava tudo aquilo, mas não podia interromper o
cronograma matinal. Tomei café da manhã e já estava pronta para o trabalho
quando voltei ao quarto dos meninos para acorda-los. As vozes tinham
desaparecido. Acordei um, dei o cereal matinal, acordei o outro e... “Mãe,
estou com muita dor de cabeça”. E ao tocar sua testa percebi a febre.
Ah...
Como fui desatenta. Claro! Agora tudo fazia sentido. A viagem do Fábio, as
vozes, o gigante que vigia e protege, André doente. Não era a primeira vez que
André adoecia logo após uma viagem do pai. Na verdade, era a terceira vez. Eu
devia ter desconfiado que eles atacariam novamente. Só o Fábio sabe lidar com
eles, e só ele os espanta.
É
que pai tem uma luz que lhes sega os olhos. Marcha rápida que os assusta. Pai
mostra o caminho a ser seguido, deixando-os para trás. E Fábio, em especial,
tem uma ternura que os paralisa, ninguém chega perto quando ele abraça os
meninos. Eles viram a grande chance ao ver Fábio sair. Mas eu poderia ter
evitado, devia estar atenta e ter logo pegue seu perfume ou seus sapatos e colocado no quarto dos
meninos, `as vezes, isso basta.
Agora
é controlar a doença e esperar o Fábio chegar. Ele cura tudo, a si próprio e a
nós todos. Cura nossos dias ruins, nossas mazelas. Fábio é como presente que
faz sorrir, um pai atento, um pai que deixa saudade infinita ao viajar.
Amamos você, papai.
PS. História baseada em fatos reais. Em 3 viagens, 3 doenças,
com o mesmo quadro clínico e sem diagnóstico preciso. E quem irá dizer que não
escuto vozes?
Feliz dia dos pais aos gigantes protetores.
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