Aproveitei
uma tarde de domingo e fui fazer um bolo. Como Igor dormia, André seria meu
único ajudante naquele dia. Enquanto eu lia a receita, ele separava os
ingredientes.
Farinha
de trigo integral.
Aveia.
Ovos.
Manteiga.
Leite.
Açúcar.
Canela.
Tudo
pronto. Iniciamos.
Manteiga
e açúcar misturados, chegou a hora dos ovos. Quebrar os ovos e separar as gemas
das claras é sem dúvidas a parte mais emocionante de se fazer uma bolo.
Especialmente quando temos crianças como sous-chefs.
André
estava morto de feliz, pois como Igor dormia, ele teria dois ovos só para ele.
Relembramos os passos a serem feitos e ele iniciou sua tarefa. Pegou o primeiro
ovo e... Fez cara de que tinha algo errado.
-
Mãe, o que é isso? Perguntou ele.
- Um
pouquinho de cocô de galinha, filho. Respondi com naturalidade.
Olhos
arregalados, coração acelerado, cara de quem comeu e não gostou. André ficou
paralisado, consternado, injuriado.
Eu
não conseguia parar de rir. E continuava rindo enquanto tentava explicar como
as galinhas punham os ovos com especial atenção aos aspectos anatômicos.
A
paralisia do André foi quebrada por um movimento lento e milimetricamente
calculado feito para colocar o ovo de volta no balcão da cozinha. Uma analogia
poderia ser feita com o Super Homem segurando uma granada de Kryptonita.
Esticou-se um pouco, e mais um pouco, para garantir que o ovo ficasse a uma
distância razoável dos outros ingredientes.
Consegui
conter o riso e André voltou sua atenção para o outro ovo. Examinou cuidadosamente
antes de pega-lo e então, seguiu o ritual de quebra-lo e acrescenta-lo aos
outros ingredientes.
Muita
meladeira, risadas e conversas. Mas chegou a hora do outro ovo, o dito cujo, o
ovo com coco de galinha.
-
André, amor, é só você repetir o mesmo
movimento que fez com o primeiro ovo. A casca não vai na receita, só o que está
dentro do ovo, então, o cocô não é um problema.
Falei
em tom professoral que pareceu funcionar pois André pegou o ovo e reiniciou o
ritual.
Mas o
destino reservava mais emoção para o meu menino naquele domingo e uma pedaço da
casca do ovo caiu dentro na tigela do bolo.
- Mamãe!!
O cocô! Gritou André.
Novamente
não contive o riso. Mas também não queria temperar o bolo com cocô de galinha. Respiramos
aliviados ao vermos que o pedaço com o cocô estava preservado, inteirinho em
sua mão.
Depois
disso, tudo correu com tranquilidade. Um pouco de farinha, um pouco de leite e
uma mexidinha. E de novo, e de novo.
Bolo
pronto, cheiro bom, merenda da tarde garantida.
Papai
olhou pro André e disse:
-
André, foi você quem fez o bolo?
-
Sim papai.
Respondeu orgulhoso.
-
Está ótimo, parabéns! Mas tem um pouco de gosto
de cocô de galinha.
Olhos
arregalados, respiração interrompida.
P.S.
Papai não podia perder a piada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário