Para mães divertidas, seguras, criativas, cheias de atitudes, atletas, donas de si, firmes, corretas e também para as mães que, como eu, não são tanto, mas são boas, intencionalmente boas mães.

domingo, 20 de maio de 2012

Ser mãe é padecer no paraiso


Escuto essa frase desde que me entendo por gente... Lavagem cerebral transformando mães em seres subservientes e conformados com a realidade nua e crua de obedecer e servir a um ser ( ou um grupo deles) pelo resto da vida. Tá bom, talvez não seja tanto assim, mas se pensarmos nas dezenas de pequenas decisões que tomamos todos os dias, em 98% delas nos colocamos em segundo plano. Nos outros 2% perdemos tempo morrendo de culpa.
Olhem este texto por Uinie Caminha. Bom tê-lo sempre guardado em um canto seguro, você pode precisar rele-lo algumas vezes durante sua jornada materna.
Boa semana a todos!
SER MÃE NÃO É SOFRER!
Uinie Caminha
Uinie com seus filhos: Cecília e João Manuel
Quem , além de alguém com uma culpa doentia se sentiria homenageada com um texto como esses?  E não falo da culpa atávica recessiva no cromossomo X... é algo muito pior. Algo que diz que uma mulher, ao ser mãe, tem que sofrer muito para ser digna de tanta honra. Eis o motivo da minha fúria:
“ANTES DE SER MÃE

Antes de ser mãe eu fazia e comia os alimentos quentes.
Eu não tinha roupas manchadas.
Eu tinha calmas conversas ao telefone.

Antes de ser mãe eu dormia o quanto eu queria e nunca me preocupava com a hora de ir para a cama.
Eu não esquecia de escovar os dentes e os cabelos.

Antes de ser mãe eu limpava minha casa todo dia.
Eu não tropeçava em brinquedos nem pensava em canções de ninar.

Antes de ser mãe eu não me preocupava se minhas plantas eram venenosas ou não.
Imunizações e vacinas eram coisas em que eu não pensava.

Antes de ser mãe ninguém vomitou e nem fez xixi em mim,
nem me beliscou sem nenhum cuidado, com dedinhos de unhas finas.

Antes de ser mãe eu tinha controle sobre a minha mente, meus pensamentos, meu corpo e meus sentimentos.
... eu dormia a noite toda...

Antes de ser mãe eu nunca tive que segurar uma criança chorando para que médicos pudessem fazer teste e aplicar injeções.
Eu nunca chorei olhando pequeninos olhos que choravam.
Eu nunca fiquei gloriosamente feliz com uma simples risadinha.
Eu nunca fiquei sentada horas e horas olhando um bebê dormindo.

Antes de ser mãe eu nunca segurei uma criança só por não querer afastar meu corpo do dela.
Eu nunca senti meu coração se despedaçar quando não puder estancar uma dor.
Eu nunca imaginei que uma coisa tão pequenina pudesse mudar tanto minha vida.
Eu não imaginei que pudesse amar alguém tanto assim.
Eu não sabia que eu adoraria ser mãe.

Antes de ser mãe eu não conhecia a sensação de ter meu coração fora do meu próprio corpo.
Eu não conhecia a felicidade de alimentar uma bebê faminto.
Eu não imaginava que alguém tão pequenino pudesse fazer-me sentir tão importante.”
Voltei:
Há algum tempo não me sentia tão ultrajada com uma “homenagem”... e olha que mal passou o famigerado dia internacional da mulher!
Aparentemente, pelo texto distribuído entre as incaltas que adentraram ao Colégio Ari de Sá Cacalcante na manha da festinha de dia das mães, deveria dar o recado irrefutável: amiga, pariu, agora sofra!
Que tal ensinar, como minha mãe me ensinou, que seu sono também é sagrado? Que não se pode simplesmente adentrar ao quarto materno, sem bater na porta e pedir permissão? Que quando a mãe está ao telefone, como qualquer outro ser humano, não se deve interromper? Que a hora da refeição deve ser calma para todos? Que nenhuma mulher deve esquecer de si mesma?
Pois é, aparentemente, o  mal da minha geração é esse... noto isso na maioria de minhas amigas e conhecidas.  Anular-se ao ser mãe, creio ser fenômeno relativamente moderno, ou resgate de algo mais antigo... Como a maioria tem retardado a maternidade e trabalha bastante, entende que sofrer as supostas consequencias, faz parte.
Ouvi há pouco minha mãe dizer que jamais ficou uma noite acordada por conta de uma gripe e também não me lembro dela acordando 6 da mahã para me arrumar para escola. No entanto, isso não me gerou trauma: a minha mãe, mãe profissional, preparou-me para o mundo com um pragmatismo ímpar (que infelizmente não pude absorver de todo, tendo em vista a forte herança paterna).
Ao ler um texto como esses, e, pior, ao ver que uma das mães que o leram em voz alta na festinha chorou ao fazê-lo, fez-me pensar: eu mereço algo melhor do que está aí.
Não quero ficar suja, feia, alijada das coisas que me dão prazer, quero o direito de praticar esporte, de ir ao cabelereiro toda semana, de NÃO ir ao circo, que eu destesto, e dizer isso a meus filhos. Quero falar ao telefone, ter uma refeição calma, ou, simplemente, ser um indivíduo, antes de ser uma mãe.
Vejo, em festinhas como as que vou – exclusivamente por culpa – mães e pais que se levantam atrapalhando a visão de outros ou que guardam lugares como colegiais demonstrando total falta de civilidade ... mas é aceitavel, pois são seus filhos! E também não posso reclamar, por que se pari, tenho mais é que sofrer!
Meus filhos – que são duas crianças aparentemente saudáveis e felizes, e que são capazes de frequentar qualquer ambiente social sem me fazer passar vergonha desde a mais tenra idade, são educados para saber que tenho uma vida independente da deles, que quero e farei tudo para que sejam mais felizes e independentes, mas que, primeiro, EU, pois a minha vida é aqui e agora, e a deles... a deles está só começando e não quero, no futuro,  inundá-los de culpa por minha própria frustração.  #prontofalei!

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