Criança doente. Criança bem pequenininha
doente. Quem falaria sobre merecimento? Acredito que mesmo a fé que enche
corações de tranquilidade e conformismo não se atreveria a aceitar. Aceitar sem
dor no coração ou sem perguntas não respondidas.
O fato é que adoecem. As crianças bem
pequeninas e as maiores. Deveria ter uma lei no céu em resposta a um abaixo
assinado dos anjos pedindo que poupassem as crianças deste sofrimento. Não há
dúvida de que mães e pais também sofreriam menos caso a doença fosse neles próprios. Pois dor de
filho é dor em dobro.
Aqui na UTI pediátrica sabe-se bem sobre
sofrimento. Mas sabe-se da cura e do renascimento também. E essa é a força que
move. Cateteres, fios, sondas e tubos em nome da cura, armas para uma guerra
muitas vezes desleal. Incansáveis, os profissionais defendem-se atrás de gorros
e máscaras, como quem esconde-se do medo e da insegurança de quem vive vendo a
vida por um fio.
Vê-se pouco do pequeno menino indefeso.
Coberto de cuidados. Manguito na perna direita, oxímetro no pé esquerdo, acesso
venoso no braço esquerdo, monitores cardíacos no tórax, sonda orogástrica com
fixação que cobre as bochechas já não tão rosadas como antes. Bandagem na
cabeça para fixar os tubos de oxigênio em pressão positiva. Todo coberto,
enroladinho para espantar o frio do ar condicionado e de todo o resto.
Sabe-se que daqui alguns anos ele estará
correndo por ai, sem marcas nem lembranças do dia de hoje. Porém, caso
queira saber o que um dia aconteceu, é
só ouvir a voz embargada e a retina marcada de quem um dia o viu assim.
Um dia para não ficar na lembrança, mas por
teima e cisma, fica tatuado.
Agradecimento especial a minha grande amiga
Melícia Aguiar, que aprendeu a caminhar
tão bem por esses corredores que dividem a saúde e a doença. Que parece
caminhar sem máscaras ou gorros e que vê além do aparato que esconde a criança.
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