Aí vai a história de Lina, Tibério e da pequena Alice, já velha conhecida de vocês do post Ajuda bem- vinda, visita breve.
Boa leitura!
O parto de Alice
por Lina Távora
Sei
que poucas vezes na vida conseguimos algo do jeitinho que sonhamos, por
isso, quero imprimir na memória o parto de Alice. Tudo saiu como eu
queria. Tudo bem, poderia ter sido mais rápido (bem mais rápido), mas
isso, hoje, é irrelevante. O que fica na nossa história é que Alice
nasceu de um parto natural hospitalar, sob o olhar corajoso e carinhoso
do pai Tibério, com ajuda de duas anjinhas: minha doula Rafaela e minha
obstetra Rachel. Estou, porém, colocando, como se diz, o carro na frente
dos bois, voltemos ao começo.
Gravidez
Dizem que o signo de
câncer é maternal. Deve ser verdade. Sempre quis ser mãe. Queria ser mãe
logo, mas ficamos esperando aquele momento ideal. Para mim, precisava
que meu companheiro quisesse o tanto que eu queria. Eu jogava a proposta
de tempos em tempos, mas esperava a certeza dele. Bem, depois de
mestrado defendido, concurso aprovado e casamento marcado (já morávamos
juntos há mais de 4 anos) eu decidi (e informei ao Tibério): iria parar
de tomar anticoncepcional. Nos meus planos, porém, era só o primeiro
passo, aguardaria a liberação geral para depois. E não é que o que eu
tanto queria aconteceu: ele começou a pedir que tentássemos logo, sem
pressão...
No
quarto mês de tentativa, com três testes de farmácia negativos, um
exame de sangue inconclusivo, confirmamos a gravidez. Queria gritar para
o mundo. E gritei. Não esperei muito para falar para família e amigos.
Com a festa de casamento agendada, escutei muito "mas por que não
esperou?", "não vai beber no seu casamento?", "e o vestido, vai caber?".
Só pensava o tanto que já tinha curtido esses pontos da vida e o tanto
que estava feliz por começar uma nova etapa.
O plano de parto
Nos meus planos sobre
a maternidade, tinha uma certeza: queria ter um parto normal. Não
imaginava que essa seria uma decisão tão difícil e que eu teria que
lutar para alcançá-la. Comecei a ler muito sobre o assunto. Quanto mais
eu lia, mais a imagem de um parto natural me consumia - acreditando nos
benefícios que isso traria a mim e a minha filha. Conversava com minha
médica (escolhida exatamente por ser adepta do parto normal), escolhi
uma doula (que me passava muita tranquilidade), assistia a vídeos,
participava de lista de discussão. Tibério não se envolvia tanto, mas eu
insistia. À noite, lia para ele trechos de relatos de parto (eu aos
prantos, sempre). Na verdade, acho que ele estava cauteloso, com medo de
que se não desse certo eu começasse a nossa família com algum trauma,
com uma decepção. Tudo bem, ele tinha certa razão, também tive que
aceitar essa possibilidade - mas como exceção e não como regra. O que eu
queria era não cair em uma cesariana desnecessária e para isso a
escolha da equipe que me acompanhou foi fundamental.
Chegou a hora
Com a proximidade da
40a semana, comecei a conversar bastante com a Alice para que ela não
demorasse muito. Claro que afirmava, cheia de razão, que minha médica
esperaria até a 42a e pronto, mas dentro de mim sabia que se passasse da
semana número 40 iria começar a ficar ansiosa e aflita (e com muito
medo da pressão externa para que Alice nascesse logo). Minha barriga
estava gigantesca e, claro, estava física e mentalmente cansada. Decidi,
então, parar de trabalhar na semana que completaria 39 semanas.
Acertado tudo no trabalho, parei no dia 21 de novembro de 2011, uma
segunda-feira. Na terça, com 39 semanas completas, fiz um jantarzinho
para duas colegas e minha chefe. Foi ótimo, comi uma massa e todos
tomaram vinho (menos eu). Fui dormir depois de 1h da manhã e logo que me
deitei comecei a sentir as primeiras contrações com dor. Nada
insuportável. Eu acordava olhava as horas e esperava passar, mas não
precisava me mexer, ficava ali deitada na cama. No outro dia,
quarta-feira, as contrações continuavam, mas ainda de forma irregular e
bem suportáveis. Já alertei a médica, mas continuei seguindo o meu dia o
mais próximo do normal (que, para falar a verdade, estava
anormalíssimo). Estava um pouco nervosa, mas com uma ansiedade boa por
saber que o momento se aproximava. De quarta para quinta-feira a
situação intensificou-se. Já não conseguia ficar deitada durante as
contrações. Me levantava, respirava fundo e esperava cada uma passar...
Perto das 5h da manhã, na certeza que estava prestes a parir, convenci o
Tibério a irmos para o hospital. Ligamos para a médica e, no caminho,
Tibério informou às futuras vovós que Alice estava perto de chegar.
Na
triagem do hospital, a pergunta que depois viraria piada: na escala de 1
a 10, sendo 1 mais fraco e 10 mais forte, como você caracteriza a sua
dor? Sem pensar, lasquei um 9 (imaginei que teria apenas um pontinho
para subir ainda no grau da dor). E com esse desenho na mente fui
examinada pela médica de plantão que constatou que eu estava apenas com 1
cm de dilatação (jura que é preciso chegar aos 10?!). Não quis fazer as
contas de há quantas horas já estava sentindo contrações. A doula
estava no hospital a nossa espera, acompanhou umas duas contrações e
verificou que, por mais que intensas, elas ainda eram curtas (lembro que
olhei para ela e falei: mas está vendo que não é mentira minha?).
Estava sim em trabalho de parto, mas precisava ter calma. Tibério ligou,
então, para a Dra. Rachel que, como sempre, nos tranquilizou e nos
aconselhou a voltar para casa, pois a sua experiência já previa que
Alice ainda iria demorar um pouco para nascer.
Quinta-feira
intensa e nada mais. Não conseguia comer nada (nada mesmo), tentava
descansar entre as contrações, mas, quando elas vinham, o mundo tinha
que parar. Eu entrava pouco a pouco nesse universo paralelo que é a
partolândia. No final da manhã, fomos ao consultório da obstetra - mais
um toque, agora 4 cm. Mais uma volta para casa. Mais um encontro com
nossa doula, que não nos largou mais até o nascimento de Alice. Ela
ficou na nossa casa, caminhamos pela quadra, subimos escadas, e, o mais
importante, conversou conosco, nos lembrando que aquele era um processo
natural, que estava tudo bem comigo e com Alice (ela acompanhava os
batimento da pequena de tempos em tempos).
No
final do dia Rafaela fez mais um toque, estava de 5 para 6 cm de
dilatação. Com essa notícia, voltamos ao hospital. Dra. Rachel
examinou-me mais uma vez, admitiu-me no hospital e foi para casa,
voltando umas 21h. Nesse tempo, já estava em transe. O mundo exterior à
minha barriga não existia. Lembrava constantemente que a cada contração
estaria mais perto da minha filha. Rafaela fazia massagens e me
incentivava a tomar longos banhos. Tibério me acompanhava sempre com o
olhar.
Tibério,
inclusive, é um capítulo à parte. Para começar, vale ressaltar que ele
morre de medo de médico e passa mal se ver uma gota de sangue. Então, eu
pensava: como vai conseguir acompanhar meu parto? No dia do nascimento
de Alice, entretanto, Tibério se transformou e se entregou àquele nosso
momento. Não lembro de muitas palavras, mas ele tinha um olhar que me
acompanhava e me encorajava. Das poucas conversas, ele falou: acho que
você não devia mesmo tomar analgesia. Compreendi, naquele instante, que
ele estava abraçando tudo o que eu tinha falado para ele durante a
gravidez. O parto também era dele.
Com
a volta da Dra. Rachel, mais um toque e, agora, a ruptura da bolsa. Com
a bolsa rota e o processo final de dilatação, a dor apertou. Pela
primeira vez, duvidei que fosse capaz. Repeti algumas vezes: não vou
conseguir! Acho que, para ser sincera, estava com medo do expulsivo, que
se aproximava. Foquei tanto minhas forças em "aguentar" chegar aos 10
cm que esqueci de configurar na minha mente o nascimento em si.
Por
volta das 23h, fomos para a sala de parto (centro cirúrgico). No
caminho, a moça que me levava na maca soltou a pérola: ah, você quer
normal? Muitas querem, mas poucas conseguem. Que bom que aquilo não me
abalou. Hoje, sei que se passaram mais umas 2 horas para a Alice nascer.
Naqueles instantes não saberia precisar tempo, ele estava suspenso.
Existiam apenas contrações e a vontade de ter minha filha comigo. Dra.
Rachel transformou-se em um parteira, me guiando nessa fase final.
Rafaela continuava com suas palavras de incentivo e o Tibério, mais uma
vez, era só emoção, que eu sentia apenas de olhar para ele. Em um
momento, a obstetra, talvez já preocupada com o passar do tempo, pediu
às enfermeiras que colocassem um sorinho (com ocitocina) em mim. Elas
tentaram umas três vezes sem êxito e, nesse intervalo, fiz tanta força
que o processo acelerou. Dra. Rachel brincou: tudo bem, Lina, já
entendi, você quer um parto natural, não vamos mais colocar nada, agora é
com você. Algumas contrações depois, Alice começou a nascer, fiz uma
força maior e dei alguns gritos pela primeira vez. E assim, como se tudo
tivesse sido muito rápido, dei a luz à Alice. Minha filha estava nos
meus braços, como eu sempre sonhei. Primeiro colocaram ela virada para o
outro lado e fiquei ali sem coragem de virá-la. O pediatra já estava
ansioso para levá-la, mas Dra. Rachel "enrolou" ele um pouco, para que
eu curtisse minha filha ali comigo. Ela também esperou o cordão parar de
pulsar e convidou o Tibério para cortá-lo. Alice já estava olhando para
mim, com seu chorinho agudo e o meu aberto. Tibério me deu um beijo, o
melhor até agora, e seguiu com nossa filha para os exames pós-parto. De
repente, uma energia corria no meu corpo, seria capaz de sair correndo e
pulando de alegria. Esperamos ainda a placenta ser expelida
naturalmente, e, assim, a última fase do parto estava concluída.
A
história volta ao início: Alice nasceu do jeitinho que eu queria -
parto natural hospital (sem analgesia, sem intervenções desnecessárias),
na madrugada de uma sexta-feira, na virada da lua nova, dia 25 de
novembro, enquanto chovia em Brasília. Tibério acompanhou tudo e cortou o
cordão umbilical. Foi dessa forma que Alice veio ao mundo e
transformaria nossas vidas para sempre.
Lindo depoimento! Parabéns pela coragem e persistência... e claro, pela filhota!
ResponderExcluirQue texto lindo! Parabéns à Lina e ao Tibério pela força, coragem e cumplicidade no momento de trazer a Alice ao mundo!
ResponderExcluirBeijos
Syl
http://minhacasinhafeliz.blogspot.com/
Lininha, que texto lindo. Muita emoção mesmo. Contando os dias para conhecer a Alice.
ResponderExcluirLinetes, vc me inspira, companheira!!!
ResponderExcluirRina (ansiosa para experimentar essas emoções)
Que lindo! Emocionante e relevante. Parabéns por tudo e pela filhota Alice!
ResponderExcluirLindo relato, amiga. Você, Alice e Tibério são muito queridos! :)
ResponderExcluirLinoca, que texto lindo!!!! Me emocionei. Muito orgulho de ser tu amiga, viu??
ResponderExcluirParabéns... Por tudo.
Beijos
Que lindo Lina querida! Obrigada por me convidar a participar desse momento tão esperado e realmente espetacular! Eu estive lá e senti toda essa emoção e amor transbordar! Parabéns para vcs!!!!
ResponderExcluirBeijos com saudades...
Rafa
Nossa, eu chorei, muito linda está história... fiquei pensando no meu parto... e pensando na sua emoção que momento único...
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