Para mães divertidas, seguras, criativas, cheias de atitudes, atletas, donas de si, firmes, corretas e também para as mães que, como eu, não são tanto, mas são boas, intencionalmente boas mães.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O texto que nunca escrevi...

Esse eu esperava há um tempo... História linda, comovente e inspiradora como todos os nascimentos. Mas esse é especial, esse foi do jeito que se sonhou! Sonhar, dedicar-se ao sonho e realizá-lo. Alguém consegue pensar em algo melhor? Eu não.
Aí vai a história de Lina, Tibério e da pequena Alice, já velha conhecida de vocês do post Ajuda bem- vinda, visita breve.
Boa leitura!
O parto de Alice

por Lina Távora

Sei que poucas vezes na vida conseguimos algo do jeitinho que sonhamos, por isso, quero imprimir na memória o parto de Alice. Tudo saiu como eu queria. Tudo bem, poderia ter sido mais rápido (bem mais rápido), mas isso, hoje, é irrelevante. O que fica na nossa história é que Alice nasceu de um parto natural hospitalar, sob o olhar corajoso e carinhoso do pai Tibério, com ajuda de duas anjinhas: minha doula Rafaela e minha obstetra Rachel. Estou, porém, colocando, como se diz, o carro na frente dos bois, voltemos ao começo.
Gravidez

Dizem que o signo de câncer é maternal. Deve ser verdade. Sempre quis ser mãe. Queria ser mãe logo, mas ficamos esperando aquele momento ideal. Para mim, precisava que meu companheiro quisesse o tanto que eu queria. Eu jogava a proposta de tempos em tempos, mas esperava a certeza dele. Bem, depois de mestrado defendido, concurso aprovado e casamento marcado (já morávamos juntos há mais de 4 anos) eu decidi (e informei ao Tibério): iria parar de tomar anticoncepcional. Nos meus planos, porém, era só o primeiro passo, aguardaria a liberação geral para depois. E não é que o que eu tanto queria aconteceu: ele começou a pedir que tentássemos logo, sem pressão... 

No quarto mês de tentativa, com três testes de farmácia negativos, um exame de sangue inconclusivo, confirmamos a gravidez. Queria gritar para o mundo. E gritei. Não esperei muito para falar para família e amigos. Com a festa de casamento agendada, escutei muito "mas por que não esperou?", "não vai beber no seu casamento?", "e o vestido, vai caber?". Só pensava o tanto que já tinha curtido esses pontos da vida e o tanto que estava feliz por começar uma nova etapa. 

O plano de parto

Nos meus planos sobre a maternidade, tinha uma certeza: queria ter um parto normal. Não imaginava que essa seria uma decisão tão difícil e que eu teria que lutar para alcançá-la. Comecei a ler muito sobre o assunto. Quanto mais eu lia, mais a imagem de um parto natural me consumia - acreditando nos benefícios que isso traria a mim e a minha filha. Conversava com minha médica (escolhida exatamente por ser adepta do parto normal), escolhi uma doula (que me passava muita tranquilidade), assistia a vídeos, participava de lista de discussão. Tibério não se envolvia tanto, mas eu insistia. À noite, lia para ele trechos de relatos de parto (eu aos prantos, sempre). Na verdade, acho que ele estava cauteloso, com medo de que se não desse certo eu começasse a nossa família com algum trauma, com uma decepção. Tudo bem, ele tinha certa razão, também tive que aceitar essa possibilidade - mas como exceção e não como regra. O que eu queria era não cair em uma cesariana desnecessária e para isso a escolha da equipe que me acompanhou foi fundamental. 

Chegou a hora

Com a proximidade da 40a semana, comecei a conversar bastante com a Alice para que ela não demorasse muito. Claro que afirmava, cheia de razão, que minha médica esperaria até a 42a e pronto, mas dentro de mim sabia que se passasse da semana número 40 iria começar a ficar ansiosa e aflita (e com muito medo da pressão externa para que Alice nascesse logo). Minha barriga estava gigantesca e, claro, estava física e mentalmente cansada. Decidi, então, parar de trabalhar na semana que completaria 39 semanas. Acertado tudo no trabalho, parei no dia 21 de novembro de 2011, uma segunda-feira. Na terça, com 39 semanas completas, fiz um jantarzinho para duas colegas e minha chefe. Foi ótimo, comi uma massa e todos tomaram vinho (menos eu). Fui dormir depois de 1h da manhã e logo que me deitei comecei a sentir as primeiras contrações com dor. Nada insuportável. Eu acordava olhava as horas e esperava passar, mas não precisava me mexer, ficava ali deitada na cama. No outro dia, quarta-feira, as contrações continuavam, mas ainda de forma irregular e bem suportáveis. Já alertei a médica, mas continuei seguindo o meu dia o mais próximo do normal (que, para falar a verdade, estava anormalíssimo). Estava um pouco nervosa, mas com uma ansiedade boa por saber que o momento se aproximava. De quarta para quinta-feira a situação intensificou-se. Já não conseguia ficar deitada durante as contrações. Me levantava, respirava fundo e esperava cada uma passar... Perto das 5h da manhã, na certeza que estava prestes a parir, convenci o Tibério a irmos para o hospital. Ligamos para a médica e, no caminho, Tibério informou às futuras vovós que Alice estava perto de chegar. 

Na triagem do hospital, a pergunta que depois viraria piada: na escala de 1 a 10, sendo 1 mais fraco e 10 mais forte, como você caracteriza a sua dor? Sem pensar, lasquei um 9 (imaginei que teria apenas um pontinho para subir ainda no grau da dor). E com esse desenho na mente fui examinada pela médica de plantão que constatou que eu estava apenas com 1 cm de dilatação (jura que é preciso chegar aos 10?!). Não quis fazer as contas de há quantas horas já estava sentindo contrações.  A doula estava no hospital a nossa espera, acompanhou umas duas contrações e verificou que, por mais que intensas, elas ainda eram curtas (lembro que olhei para ela e falei: mas está vendo que não é mentira minha?). Estava sim em trabalho de parto, mas precisava ter calma. Tibério ligou, então, para a Dra. Rachel que, como sempre, nos tranquilizou e nos aconselhou a voltar para casa, pois a sua experiência já previa que Alice ainda iria demorar um pouco para nascer.

Quinta-feira intensa e nada mais. Não conseguia comer nada (nada mesmo), tentava descansar entre as contrações, mas, quando elas vinham, o mundo tinha que parar. Eu entrava pouco a pouco nesse universo paralelo que é a partolândia. No final da manhã, fomos ao consultório da obstetra - mais um toque, agora 4 cm. Mais uma volta para casa. Mais um encontro com nossa doula, que não nos largou mais até o nascimento de Alice. Ela ficou na nossa casa, caminhamos pela quadra, subimos escadas, e, o mais importante, conversou conosco, nos lembrando que aquele era um processo natural, que estava tudo bem comigo e com Alice (ela acompanhava os batimento da pequena de tempos em tempos). 

No final do dia Rafaela fez mais um toque, estava de 5 para 6 cm de dilatação. Com essa notícia, voltamos ao hospital. Dra. Rachel examinou-me mais uma vez, admitiu-me no hospital e foi para casa, voltando umas 21h. Nesse tempo, já estava em transe. O mundo exterior à minha barriga não existia. Lembrava constantemente que a cada contração estaria mais perto da minha filha. Rafaela fazia massagens e me incentivava a tomar longos banhos. Tibério me acompanhava sempre com o olhar. 

Tibério, inclusive, é um capítulo à parte. Para começar, vale ressaltar que ele morre de medo de médico e passa mal se ver uma gota de sangue. Então, eu pensava: como vai conseguir acompanhar meu parto? No dia do nascimento de Alice, entretanto, Tibério se transformou e se entregou àquele nosso momento. Não lembro de muitas palavras, mas ele tinha um olhar que me acompanhava e me encorajava. Das poucas conversas, ele falou: acho que você não devia mesmo tomar analgesia. Compreendi, naquele instante, que ele estava abraçando tudo o que eu tinha falado para ele durante a gravidez. O parto também era dele.

Com a volta da Dra. Rachel, mais um toque e, agora, a ruptura da bolsa. Com a bolsa rota e o processo final de dilatação, a dor apertou. Pela primeira vez, duvidei que fosse capaz. Repeti algumas vezes: não vou conseguir! Acho que, para ser sincera, estava com medo do expulsivo, que se aproximava. Foquei tanto minhas forças em "aguentar" chegar aos 10 cm que esqueci de configurar na minha mente o nascimento em si.

Por volta das 23h, fomos para a sala de parto (centro cirúrgico). No caminho, a moça que me levava na maca soltou a pérola: ah, você quer normal? Muitas querem, mas poucas conseguem. Que bom que aquilo não me abalou. Hoje, sei que se passaram mais umas 2 horas para a Alice nascer. Naqueles instantes não saberia precisar tempo, ele estava suspenso. Existiam apenas contrações e a vontade de ter minha filha comigo. Dra. Rachel transformou-se em um parteira, me guiando nessa fase final. Rafaela continuava com suas palavras de incentivo e o Tibério, mais uma vez, era só emoção, que eu sentia apenas de olhar para ele. Em um momento, a obstetra, talvez já preocupada com o passar do tempo, pediu às enfermeiras que colocassem um sorinho (com ocitocina) em mim. Elas tentaram umas três vezes sem êxito e, nesse intervalo, fiz tanta força que o processo acelerou. Dra. Rachel brincou: tudo bem, Lina, já entendi, você quer um parto natural, não vamos mais colocar nada, agora é com você. Algumas contrações depois, Alice começou a nascer, fiz uma força maior e dei alguns gritos pela primeira vez. E assim, como se tudo tivesse sido muito rápido, dei a luz à Alice. Minha filha estava nos meus braços, como eu sempre sonhei. Primeiro colocaram ela virada para o outro lado e fiquei ali sem coragem de virá-la. O pediatra já estava ansioso para levá-la, mas Dra. Rachel "enrolou" ele um pouco, para que eu curtisse minha filha ali comigo. Ela também esperou o cordão parar de pulsar e convidou o Tibério para cortá-lo. Alice já estava olhando para mim, com seu chorinho agudo e o meu aberto. Tibério me deu um beijo, o melhor até agora, e seguiu com nossa filha para os exames pós-parto. De repente, uma energia corria no meu corpo, seria capaz de sair correndo e pulando de alegria. Esperamos ainda a placenta ser expelida naturalmente, e, assim, a última fase do parto estava concluída. 

A história volta ao início: Alice nasceu do jeitinho que eu queria - parto natural hospital (sem analgesia, sem intervenções desnecessárias), na madrugada de uma sexta-feira, na virada da lua nova, dia 25 de novembro, enquanto chovia em Brasília. Tibério acompanhou tudo e cortou o cordão umbilical. Foi dessa forma que Alice veio ao mundo e transformaria nossas vidas para sempre.

9 comentários:

  1. Lindo depoimento! Parabéns pela coragem e persistência... e claro, pela filhota!

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  2. Que texto lindo! Parabéns à Lina e ao Tibério pela força, coragem e cumplicidade no momento de trazer a Alice ao mundo!

    Beijos
    Syl
    http://minhacasinhafeliz.blogspot.com/

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  3. Lininha, que texto lindo. Muita emoção mesmo. Contando os dias para conhecer a Alice.

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  4. Linetes, vc me inspira, companheira!!!
    Rina (ansiosa para experimentar essas emoções)

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  5. Que lindo! Emocionante e relevante. Parabéns por tudo e pela filhota Alice!

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  6. Lindo relato, amiga. Você, Alice e Tibério são muito queridos! :)

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  7. Linoca, que texto lindo!!!! Me emocionei. Muito orgulho de ser tu amiga, viu??
    Parabéns... Por tudo.
    Beijos

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  8. Que lindo Lina querida! Obrigada por me convidar a participar desse momento tão esperado e realmente espetacular! Eu estive lá e senti toda essa emoção e amor transbordar! Parabéns para vcs!!!!

    Beijos com saudades...
    Rafa

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  9. Nossa, eu chorei, muito linda está história... fiquei pensando no meu parto... e pensando na sua emoção que momento único...

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