Duas vezes por ano embarco na aventura de organizar uma festa
infantil. Nessa missão o destino me presenteou com duas grandes sortes, uma tia
dona de buffet e datas de aniversário dos filhos com 4 meses de diferença.
Desde de sempre assumi algumas regras básicas que sigo com
convicção. Todas partem do princípio de que a festa é do e para o meu filho (não
minha). Seus amigos (e não os meus) serão os convidados. Apenas os parentes
próximos (digo, bem próximos) serão convidados, com prioridade àqueles com filhos
pequenos. Os amiguinhos da escola são sempre chamados, pois é com eles que ele
convive todos os dias. Assim, consegui cortar custos, tornar a festa menor e
mais aconchegante para os pequenos.
Quanto ao que servir... A única coisa que faço questão é de colocar
muito suco e água. Algumas frutas, comidinhas leves. Já servi milk-shake, gelatina,
espetinhos de frutas (todos em geral esquecidos no cardápio das festinhas que
vou) e a garotada adorou.
Semana passada, em meio a organização do aniversário do André de 5
anos, li uma matéria que veio bem a calhar. “Melhor mudar de mundo do que
muda-lo” de Cássia Fernandes. Ela fala de como temos dificuldade de
transformarmos pequenas coisas e costumes no nosso dia a dia para mantermos
hábitos mais saudáveis e ecologicamente mais sustentáveis. Ela usa o
aniversário infantil como vilão na matéria mas acho que a crítica se aplicaria
a muitas coisas.
A matéria pode parecer um pouco extremista, mas no fundo a autora
tem suas razões. Resolvi destacar os trechos abaixo:
“…as escolas não fazem nenhuma restrição às famigeradas lembrancinhas
que na maioria das vezes consistem numa caixa, lata ou saquinho, contendo uma
quantidade assombrosa de plástico e açúcar, para horror dos nutricionistas. São
quinquilharias descartáveis, brinquedinhos made in China, que quebram ao
primeiro manuseio e vão parar no lixo, reciclável, por favor. É um surtimento
impressionante de balas e chocolates, muitos sem qualquer controle de
qualidade, repletos de corantes, e comercializados nas lojas de artigos para
festas espalhadas a cada esquina.
O saldo festivo costuma ser uma ameaça a qualquer equilibrada
dieta infantil. …Muitas fazem aniversário no mesmo mês, de tal forma que numa
mesma semana às vezes a meninada leva pra casa um verdadeiro arsenal de
guloseimas que competem deslealmente com a maçã e o alface. E lá vão essas
mesmas mães – oh, contradição! – inventar esconderijos e formar
trincheiras para proteger as crianças, já viciadas nas bombas de açúcar”.
Lembrancinha de 2 anos do Igor com o tema fazenda. Fantoches - com doces dentro- mas em minha defesa digo, os doces eram da fazenda! ( cocada, goiabada, rapadura, doce de banana) |
De fato, bombom é o que não
falta na maioria das lembrancinhas de aniversário. E olha que sou fã de lembrancinhas,
uso e reuso todas: bolsinhas, potes, toalhinhas. Aproveito mesmo e faço valer o
dinheiro que elas custaram. Mas não precisava de tanto doce.
Há 3 semanas, “alimentei” 60
alunos de medicina da UNIFOR que faziam prova, e sim, nesta hora eles
precisavam de algo para adoçar a vida e os neurônios. Alimentei-os com o
apurado de duas festinhas infantis que meus filhos haviam comparecido. Cada
aluno pegou 1 ou mais bombons e mesmo assim ainda sobraram um pacotinho de
jujubas e uma bala de banana no potinho ( uma lembrancinha) que eu circulava em
sala.
As crianças já esperam e
aguardam ansiosas pelos doces das lembrancinhas e acho que devem existir.
Porém, como tudo na vida, devem existir com moderação. Não gostamos que nossos
filhos comam bombom todo dia, mas fornecemos aos filhos dos outros ( nossos
convidados) um arsenal enorme nas lembrancinhas. Queremos estimular hábitos
saudáveis mas ao mesmo tempo não conseguimos inseri-los no nosso dia a dia.
Mas é dia de festa, hoje pode! Até penso assim também, que
extravagâncias devem ser feitas e devemos nos permitir pequenos prazeres de
quando em vez, mas... O (um) pirulito será suficiente para arrancar um lindo
sorriso e será ainda mais prazeroso se a ele ( o único) for dado o devido
valor. Mas é a festa do meu filho e quero que seja maravilhosa! Por isso mesmo... A festa do seu filho
é sua única chance de mudar, fazer diferente. Só nela você tem gerência, não
nas dos outros. É sua chance de dar um bom exemplo e de ter uma boa ideia!
Cássia fala ainda:
“Na última festa de meu filho na escola, recordando as dificuldades
que enfrentava quando ele era alérgico a lactose e corantes, e as estratégicas
que era preciso criar para dar sumiço às tais lembrancinhas, resolvi nadar
contra a corrente. Em vez de mandar um pacote de guloseimas e quinquilharias,
dias após a festa, enviei a cada coleguinha uma foto tirada do aniversariante
com cada um deles.
Aquilo sim, para mim, era uma lembrança, não o açúcar que se dissolve
na boca, não o brinquedo que se desmancha. No entanto, vendo que as
outras mães continuavam distribuindo seus kits memória, acabei por me sentir um
verdadeiro ET que tirava literalmente o doce da boca de uma criança. Receei,
agindo assim como um ser de outro planeta, fazer com que meu filho se sinta um
diferente, um excluído de nossos usos e costumes. Não pretendo repetir a
experiência. Melhor deixar de lado essa bobagem de mudar o mundo. Melhor, mais
adiante, a gente se mudar de mundo.”
Vamos então achar nosso
planeta. Criar nosso mundinho melhor dia a dia. Aquele com poucos bombons (mas
que eles existam). Mundo onde o diferente é bom, onde o novo será julgado com
lealdade e se for aprovado, adotado pela maioria. Adorei a ideias das fotos, e vocês? Não quero mudar de mundo, a final, já mudei
de país e deu muito trabalho na adaptação, mas quero, muito, mudar o mundo, as
pequenas coisas que nos cercam de imediatismos e falsas alegrias.
Vou economizar nos bombons na
lembrancinha do aniversário do André, tentar viabilizar as fotos com cada
coleguinha e, quem sabe fazer desse mais um dia em que tentei fazer algo
melhor.
No aniversário de dois anos da minha filha a lembrancinha foram livros infantis. Algumas crianças ficaram com raiva e disseram que não queriam aquela porcaria e deixaram lá....fiquei meio constrangida e nunca mais deixei de fazer o saco de balas...mesmo que tenha uma outra lembrança junto...boa sorte:)
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